A crescente crise alimentar global: Preocupações e respostas anglicanas

O mundo está agora recuando em seu objetivo de acabar com a fome, a insegurança alimentar e a desnutrição em todas as suas formas até 2030. Depois de permanecer relativamente inalterada desde 2015, a proporção de pessoas atingidas pela fome (subnutrição crônica) saltou em 2020 e continua a aumentar, de acordo com o último relatório do Estado de Segurança Alimentar e Nutricional das Nações Unidas (2022).
A Aliança Anglicana tem estado cada vez mais preocupada com os relatórios que vem recebendo de todas as partes da Comunhão sobre a crescente crise alimentar e, recentemente, convocou uma série de reuniões para avaliar a situação e conectar as/os anglicanas/os para dar uma resposta a essa crise. 
Experiências Anglicanas, Respostas e Melhores Práticas
Nas convocatórias globais da Aliança Anglicana, parceiros e facilitadoras/es regionais da Aliança discutiram suas experiências de como a crise alimentar está ameaçando e impactando suas regiões. Eles também compartilharam sobre as ações práticas que as igrejas já estão tomando para mitigar esses efeitos.
Impactos
No Oriente Médio, o facilitador regional da Aliança Anglicana, Joel Kelling, relatou uma “enorme crise iminente, especialmente no Egito, Líbano e Iêmen”. Estes países são muito dependentes de trigo e óleo de girassol vindos da Ucrânia e da Rússia.
No Pacífico, os países são bastante autossuficientes, disse Terry Russell, do Conselho de Missão Anglicana, Austrália. Eles não dependem tanto do comércio mundial de grãos, portanto, são mais resistentes aos impactos atuais dos preços globais de alimentos e combustíveis. Entretanto, as mudanças climáticas estão afetando-os bastante, impactando nos tempos de plantio e colheita.
Em países asiáticos, como Sri Lanka, Paquistão e Índia, a crise alimentar se tornou uma crise política. Muitas famílias estão cortando as refeições para apenas duas por dia. No Sri Lanka, o país inteiro é afetado, mas algumas regiões estão em maior necessidade.
Enquanto a África experimenta uma escassez alimentar perene, a atual crise global agrava a situação. Os impactos da mudança climática, como as secas prolongadas, diminuíram a produção de milho, feijão, arroz, trigo e tubérculos, que são produtos básicos dominantes e críticos na região, expondo milhões de famílias pobres à insegurança alimentar aguda. A guerra na Ucrânia também está impactando a vida cotidiana de milhões de pessoas, pois a ruptura das cadeias de abastecimento globais levou a um aumento significativo dos preços do trigo, do óleo de cozinha e dos fertilizantes.

Respostas
Os programas de alimentação escolar em escolas anglicanas no Sri Lanka, Quênia e Zimbábue estão ajudando a combater a desnutrição em crianças durante a seca e a crise atual.
Na medida em que as famílias no Sri Lanka estão racionando as refeições, a Igreja Anglicana está trabalhando com a Christian Aid para conseguir uma refeição quente por dia para as crianças nas escolas e creches anglicanas. A Igreja também está promovendo o cultivo de hortas domésticas, tanto no contexto rural, quanto no urbano, através de webinars e treinamentos presenciais. As terras da Igreja estão sendo usadas para projetos pilotos no cultivo da mandioca, como alternativa aos produtos importados.
No Caribe e na África há muita necessidade de reorientar as comunidades para aceitar e utilizar os alimentos disponíveis localmente, reduzindo a dependência de alimentos importados. Por exemplo, em tempos recentes, as culturas tradicionais de pequenos grãos, como sorgo e painço, que são tolerantes à seca, foram substituídas por culturas como o milho, que precisam de boas chuvas para crescer bem. Há uma necessidade de educar as pessoas sobre o valor nutricional dos alimentos tradicionais e disponíveis localmente, bem como sobre a forma de utilizá-los.
Em Papua Nova Guiné, as comunidades estão utilizando culturas que são cultivadas rapidamente, como a batata doce, em vez de culturas de estação mais longa, como o taro (da família do cará ou inhame). Eles também estão utilizando pequenos espaços para hortas de quintal.
A Igreja Anglicana na Polinésia está investindo em apoio à subsistência e jardins comunitários em terras das igrejas. Nas hortas comunitárias, são plantadas variedades resistentes ao clima local.
Bancos de grãos e sementes estão sendo usados ​​pelas igrejas em Mianmar, Filipinas e Tanzânia em nível paroquial e comunitário. A ideia é amalgamar e armazenar grãos durante a colheita para uso e venda durante o período de escassez, e para manter as sementes seguras para o plantio na próxima estação.
Advocacia – Defesa de direitos
As Missões Anglicanas no Pacífico estão fazendo campanha para aumentar a ajuda do governo da Nova Zelândia ao desenvolvimento no exterior.
No Sri Lanka, a Igreja Anglicana está atraindo o governo a priorizar a alimentação e alocar o orçamento. Ela também está advogando, dentro da igreja, para encorajar as hortas domésticas, tanto no contexto rural, quanto urbano, incluindo o uso das terras das igrejas para isso.
Na África, as igrejas estão pedindo doações para programas de alimentação escolar, que são críticas para evitar a desnutrição das crianças. Também há necessidade de alimentação suplementar para crianças menores de 23 meses que correm o risco de raquitismo e desperdício.
Próximos passos
A crise alimentar global continuará a impactar a vida de milhões de pessoas no futuro próximo. E é provável que modele significativamente também as paisagens políticas locais e globais. Como uma questão de desigualdade, injustiça e pobreza, e com sua interligação com a emergência climática, a crise alimentar é uma grande preocupação para a Aliança Anglicana, com seu papel de conectar, equipar e inspirar a família anglicana mundial no trabalho por um mundo livre de pobreza e injustiça, e para salvaguardar a criação.
IEAB com informações de Anglican Alliance
Revisão e edição: Comunicação IEAB
Fotos: Missões Anglicanas e Serviços Anglicanos de Desenvolvimento