35° Sínodo da IEAB: entrevista com o bispo primaz, Naudal Alves Gomes
Entre os dias 11 e 14 de novembro, será realizado o 35° Sínodo da nossa IEAB. A atividade será um momento de comunhão e muita troca de experiência sobre como podemos, mais e melhor, “Servir, Testemunhar e Reconciliar”. Belém será a cidade-sede deste Sínodo que, dentre outras coisas, irá eleger um bispo ou uma bispa para ser nosso/nossa primaz.
Sobre o assunto, conversamos com o nosso bispo primaz, Naudal Alves Gomes, que nos adiantou alguns detalhes do evento – ainda em fase de preparação. Confira.
1. Bispo, existe uma razão especial para fazer esse Sínodo na Amazônia?
No final do último Sínodo, os representantes da Diocese Anglicana da Amazônia (DAA), através da bispa Marinez, ofereceram Belém como cidade hospedeira, o que foi aceito por unanimidade pela assembleia. Foi aceito de bom grado, pois trata-se de um lugar símbolo de nosso compromisso com a vida e a criação. Conforme a compreensão anglicana de Missão, devemos cuidar e preservar a criação de Deus. Infelizmente, é uma região que, por interesses econômicos, sofre com queimadas, extrativismo vegetal e animal; enquanto isso, povos indígenas e ribeirinhos vivem uma série de violências contra as suas vidas. Por isso, estar na Amazônia é uma oportunidade de renovar o compromisso em sua defesa.
2. Você já pode adiantar quais os principais temas que serão tratados?
A igreja terá a oportunidade de avaliar o Planejamento Estratégico Provincial, com seu desdobramento nos planos das áreas, das Dioceses, na Educação Teológica e Cristã, e nos Grupos de Trabalho. Este tem sido um importante instrumento que teve e tem a participação de ampla representação clerical e leiga.
Teremos a oportunidade de acolher e deliberar sobre os “Chamados de Lambeth” para toda a Comunhão Anglicana e elegeremos um bispo ou bispa para ser nosso/a primaz. E, ainda, elegeremos os membros do Conselho Executivo e outras Comissões.
3. Como atual bispo primaz, quais são as suas expectativas?
Que celebremos a fraternidade, a alegria em, como irmãos e irmãs, seguir Jesus. Que seja um tempo produtivo de partilha e decisões. Que renovemos nosso compromisso de continuar tendo como referênciaJesus, sua vida, seus ensinos, sua missão. Da mesma forma, renovemos nosso compromisso batismal com as Marcas da Missão Anglicana.
Que renovemos nosso compromisso na promoção da justiça, a defesa das pessoas mais vulneráveis; que reafirmemos nossa atitude profética, de anúncio e denúncia; que continuemos a testemunhar e servir à maneira de Jesus Cristo.
Que continuemos sendo povo de adoração, oração e serviço.
4. Testemunhar a justiça de Deus pode ser bastante complicado em regiões onde o Estado inexiste. Como a Igreja Episcopal Anglicana do Brasil pretende trabalhar o tema, uma vez que vivemos cenários cada vez mais desafiadores?
Em qualquer contexto é difícil proclamar e viver a experiência da Justiça de Deus, mas, logicamente, em alguns é ainda mais desafiador, especialmente nos lugares onde o Estado não chega ou renuncia ao dever.
Esse tema está incluso na nossa compreensão de Missão. Celebrar a liturgia, ministrar os sacramentos, suprir as pessoas em suas necessidades e nas situações de vulnerabilidade, buscar transformar as estruturas injustas da sociedade, estabelecer diálogo que leve à paz e à reconciliação, cuidar da criação de Deus…
Buscar viver a experiência da fé tendo essa compreensão como parâmetro nos leva, seguramente, ao confronto com o sistema de exploração, de exclusão, de retirada de direitos, de desemprego, de fome, de degradação do meio ambiente. A fé, indo por esse caminho, poderá nos levar mais próximos daquilo que Jesus disse: “eu vim para que tenham vida. E vida em abundância”.
5. O versículo que norteia esse Sínodo, Isaías 56:1, diz que a justiça de Deus, um dia, “irá se manifestar” (1b). Você acredita nisso? Se sim, como acha que isso se dará?
Parece utópico proclamar que “a justiça de Deus irá se manifestar”. Lembrei do escritor Eduardo Galeano, quando ele questiona “para que serve a utopia”. Compreendo que é para que sigamos adiante. Para que serve a fé? Para que sigamos adiante, pois quem segue à nossa frente, ao nosso lado, atrás de nós, é Jesus. Ele mostrou que é possível, não com argumentação filosófica ou teológica, mas com exemplos de vida. Assim, toda vez que você reparte o pão, abriga, conforta, cura, acolhe fraternalmente na caminhada, respeita, dialoga, estará experimentando, nesses pequenos gestos, a “justiça de Deus”.