Conheça a Secretaria Geral da IEAB: entrevista com a bispa Magda Guedes

Nesta semana, nosso bate-papo é com a bispa Magda Guedes, atual secretária-geral da IEAB. Mas o que se faz na Secretaria Geral da Igreja? Quais são as atribuições dela por lá? E como ela consegue equilibrar os trabalhos na Secretaria com sua missão enquanto bispa?
A resposta para essas e outras perguntas você encontra a seguir.
Vem com a gente!
  1. Oi bispa Magda! É um prazer tê-la conosco. Queria iniciar a nossa entrevista perguntando: Quem é a Magda Guedes?
Antes de qualquer título, sou mulher, filha, pessoa humana com suas falhas, necessidades, carências, virtudes e potencialidades. Nasci em Sant’Ana do Livramento, Rio Grande do Sul, fronteira com o Uruguai, em 3 de setembro de 1967. Sou clériga desde 1996. Além da Teologia, tenho outra graduação: Pedagogia.
Desde de 2018, estou à frente da Secretaria Geral da IEAB. Em 2021, fui eleita bispa na Diocese Anglicana do Paraná. Também participo da atual gestão do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC), onde, na sua diretoria, estou no cargo de secretária.
  1. Você está à frente da Secretaria Geral da IEAB. O que, exatamente, você faz? Poderia nos apresentar um pouco da sua rotina e demandas como secretária-geral?
Na Secretaria Geral da IEAB as atividades são muitas. Dentre as funções eu destacaria duas que envolvem muitas outras atividades. São elas: coordenar, promover e supervisionar os planos e programas da IEAB e atuar como elemento de integração e ligação entre os órgãos da IEAB, em nível nacional e internacional; parte delas são muito voltadas para questões administrativas. Em boa medida, as minhas atribuições, neste período, estão relacionadas à execução dos objetivos estratégicos da IEAB, proposto no último Planejamento Estratégico Nacional.
Na prática, eu acompanho desde questões que envolvem a nossa comunicação, até aspectos, digamos, mais burocráticos, que podem incluir de redação de textos/notas, até o encaminhamento de documentos junto a órgãos competentes, questões fiscais e administrativas, envolvimento na organização de eventos como reuniões nacionais das diversas Comissões e Grupos de Trabalho Provincial, Confelider, Sínodo, etc.
Eu também estabeleço pontes entre as diferentes esferas da IEAB. Um exemplo recente disso aconteceu na tragédia de Petrópolis, em que estive diretamente envolvida na resposta que a IEAB, por meio do SADD, daria às famílias daquela região, inclusive encontrando, naquela cidade, uma instituição que pudesse ser parceira das nossas ações.
  1. Você já deve ter percebido e vivido mudanças importantes dentro e fora da IEAB. Quais são, na sua opinião, os maiores desafios da Igreja no Brasil?
De fato, o mundo muda constantemente. E dentro da Igreja não poderia ser diferente. A Igreja em que ingressei e a Igreja que hoje faço parte é “outra”. Os paradigmas mudaram, as necessidades, idem. Os jovens estão em busca de novas respostas; e aquilo que tínhamos como concreto 20, 30 anos atrás, hoje está completamente liquefeito. Mas a estrutura segue a mesma – ou quase a mesma. Então, vem a pergunta: o modelo atual resistirá à força do tempo e às novas questões que nos são colocadas? Quanto tempo temos para nos adaptar às transformações pelas quais a sociedade passa? E será que estamos conseguindo, de fato, atender às múltiplas novas demandas sociais?
Tudo isso são tópicos que precisamos rever constantemente, ou correremos o risco de nos transformarmos em algo obsoleto, a caminho de virar um museu, uma página da história.
A boa notícia é que a nossa IEAB está atenta e comprometida em ver e ouvir “o que está acontecendo lá fora”, sem perder de vista nosso compromisso com o Evangelho. Procura viver as Marcas da Missão da Comunhão Anglicana, nas suas diversas realidades, de Norte a Sul do Brasil. Neste cenário, o desafio que se coloca é: como responder a essas novas questões, firmando-as naquilo que a nossa fé sempre nos ensinou? É preciso uma nova hermenêutica? Claro que sim! Mas também um olhar mais acolhedor e humano para com todas as pessoas.
Na sociedade do imediatismo, é comum que busquemos respostas fáceis a problemas complexos. Mas essa é a receita do insucesso. Se queremos continuar sendo uma Igreja atuante, missionária, engajada nas lutas por direitos e justiça para todas as pessoas, não basta uma releitura dos textos sacros. É preciso uma releitura de nossas posturas. Devemos perceber que a vida cotidiana se dá “fora” do culto e das celebrações, mesmo depois que a bênção e a despedida litúrgica nos são dadas. Perguntemo-nos de que modo estamos dialogando com as nossas comunidades depois que a celebração acaba? Será que temos tido tempo de “ser” Igreja, ao invés de só “irmos” à Igreja? Enquanto secretária-geral e também bispa, essa é uma questão que constantemente me questiono. Os compromissos institucionais não podem “sugar” todo o nosso tempo. É preciso que uma parte importante das minhas semanas sejam “sendo” Igreja, e não apenas “indo” à Igreja.
Penso que os maiores desafios, hoje, em nossas comunidades, poderiam ser resumidos nas seguintes perguntas: Como continuaremos a ser uma Igreja viva? Como envolveremos nossos jovens de modo mais amplo, incluindo-os nas esferas de decisão da Igreja? Como trazer nossas crianças às celebrações dominicais e ter atividades também para elas? Quando, de fato, todas e todos serão plenamente incluídas e incluídos em nossas igrejas? Estamos preparados para lidar com a chaga do fundamentalismo? Continuamos atentas e atentos ao ressurgimento de movimentos elitistas, racistas e excludentes? 
As respostas a essas perguntas, infelizmente ou felizmente, eu ainda não tenho. Mas, como Igreja, precisamos nos debruçar sobre elas caso queiramos continuar caminhando para realizar a tarefa de viver e testemunhar o reinado de Deus, revelado em Jesus Cristo, no próximo século.
  1. Enquanto bispa, um dos desafios que lhe é dado é o de se manter próxima ao povo, escutando o clamor que vem das ruas. Como conciliar sua missão episcopal com a da Secretaria Geral e, ainda assim, manter contato com as bases?
R: Temos que ter o compromisso de nos manter próximos às pessoas. Se eu não fizesse isso, estaria me tornando uma mera “funcionária” da Igreja, e não quem eu sou. Por isso, faço questão de manter um canal de diálogo constante com todas e todas as pessoas que chegam até mim. Estar em comunidades é uma forma de ter o contato com as bases. Mas é preciso estar de fato, e não apenas “de corpo presente”. Tem pessoas que estão num lugar, mas a cabeça está em outro. Ouve o irmão, a irmã, mas sempre “elaborando” uma resposta, com pensamento acelerado, e nunca ouvindo o outro. Precisamos estar, de fato, ao lado de pessoas e para as pessoas, isso faz parte do meu ministério.
Agora, conciliar a atividade de bispa com a de secretária-geral tem sido bem interessante e gerado em mim muito aprendizado, pois me permite conciliar a parte administrativa e a pastoral, do cuidado, do ouvir, do compartilhar e estar atenta às necessidade da minha irmã, do meu irmão.
  1. Em poucas palavras, para você, ser anglicana é…?
Ser anglicana é viver a prática da acolhida, acreditar que podemos transformar o mundo por meio de nossas palavras e ações, e que a Igreja precisa estar atenta aos anseios das pessoas, indo ao encontro daquele e daquela que sofre, incluindo a todos e todas e colocando o amor acima da lei. Vivendo a intensidade da “Unidade na Diversidade” com respeito e compromisso diário.