Unindo gênero e meio ambiente. Por reverenda Rachel Mash

As mudanças climáticas são um problema que afeta o mundo inteiro. Mas as mulheres são, desproporcionalmente, as mais passíveis de enfrentar as consequências da crise climática global. Existem muitas razões para isso (conforme abaixo), o que torna ainda mais vital que medidas sejam tomadas o quanto antes.

Comida

Mulheres que vivem em áreas rurais e dependem dos ecossistemas locais são mais propensas a enfrentar insegurança alimentar do que os homens. Quando as secas ou inundações afetam os preços dos alimentos, as normas sociais geralmente priorizam homens e meninos, com mulheres e meninas passando fome e/ou comendo alimentos menos nutritivos. Se as mulheres não podem colocar a mesma quantidade de comida na mesa devido aos preços dos alimentos ou aos custos da água engarrafada, elas correm o risco de sofrer violência doméstica. Mulheres jovens que vivem em áreas urbanas, pressionadas a enviar dinheiro para sustentar suas famílias com dificuldades, podem correr maior risco de exploração.

Terra

As mulheres cultivam e produzem a maior parte do abastecimento mundial de alimentos, mas possuem menos de 20% das terras, estão sem direitos iguais em mais de 90 países devido a leis que seguem tradições ou religiões, ou preconceito implícito. 
Elas enfrentam mais obstáculos no acesso ao mercado, capital, treinamento e tecnologias. A produtividade agrícola das mulheres é menor devido às desigualdades no acesso a fertilizantes, pesticidas, sementes e capital. Como é sabido, a mudança climática atinge plantações que dependem de chuva com muito mais força do que as fazendas comerciais, predominantemente masculinas, com acesso à tecnologia, como irrigação por gotejamento.

Água e saneamento

Em 80% das famílias sem água encanada em casa, mulheres e meninas são as responsáveis por carregarem a água. Elas são obrigadas a caminhar longas distâncias, expostas a diferentes riscos. Isso limita seu tempo para outras atividades, como trabalho remunerado ou educação. Com as mudanças climáticas, rios secam e elas têm de caminhar ainda mais, o que significa começar sua jornada ainda no escuro. Frequentemente, meninas não vão à escola durante o período menstrual, se não puderem ter acesso à água. Banheiros públicos as colocam em risco de assédio sexual e estupro, e banheiros não higienizados podem colocar meninas e mulheres em risco de infecção.

Combustível

60% das pessoas que morrem prematuramente devido à poluição do ar no interior das casas – causada por combustíveis para cozinhar – são mulheres. Frequentemente, elas são forçadas a percorrer longas distâncias em busca de lenha, correndo o risco de serem assediadas pelo caminho.

Florestas

600 milhões de mulheres dependem das florestas para manter seu sustento. As que vivem em famílias carentes de terra fértil sofrem o impacto do desmatamento em sua luta para atender às necessidades de alimentos e combustível. A maioria dos 207 defensores ambientais mortos em 2017 era mulher.

Mudanças Climáticas e Saúde

As mulheres costumam fazer os trabalhos agrícolas e, à medida que as temperaturas sobem, correm o risco de sofrer com insolação. Em temperaturas mais altas, as áreas que estavam livres da malária estão agora se tornando criadouros de mosquitos – e mulheres grávidas e lactantes são especialmente vulneráveis à malária. O aumento do nível do mar leva à salinidade da água, o que afeta as taxas de pré-eclâmpsia.

Pescaria

Os papéis culturais muitas vezes limitam as mulheres a apenas vender os peixes que os homens pescam. Por exemplo, na Zâmbia, as mulheres não podem remar um barco. Um estudo sobre HIV na região do Lago Vitória mostrou que quando os estoques de peixes caíam, as mulheres corriam o risco de abuso sexual para ter acesso à pesca. Em consequência, as taxas de HIV aumentavam entre elas.

Poluição

Mulheres grávidas e amamentando correm maior risco com a poluição. Mulheres mal remuneradas estão expostas a mais produtos químicos tóxicos e pesticidas, pois os produtos mais baratos contêm mais químicos perigosos. As mulheres estão em maior contato com a água poluída devido às tarefas de lavagem e limpeza. Quando os municípios não coletam o lixo plástico, ele normalmente é queimado pelas mulheres, expondo-as a componentes químicos bastante tóxicos.

Desastres Naturais

Mais mulheres morrem em desastres naturais do que homens. Das 230.000 vítimas do tsunami de 2004, 2/3 eram mulheres. Por quê? Os homens estavam trabalhando – com transporte, redes sociais, em edifícios sólidos e, por isso, puderam agir mais rápido. As mulheres usavam roupas com as quais não conseguiam correr; fora que as meninas não eram ensinadas a nadar ou subir em árvores, pois seriam atividades “masculinas”. 
Nesses acontecimentos, as mulheres também tentam ajudar crianças, idosos e enfermos. Contudo, depois de desastres, as mulheres ficam vulneráveis ao abuso sexual em campos ou abrigos para refugiados. Mesmo assim, embora as mulheres corram mais riscos com as mudanças climáticas e os desafios ambientais, elas também têm a solução.

Mulheres são a Solução

Jovens mulheres ativistas do clima, como Greta Thunberg e Vanessa Nakate, estão sendo ouvidas em palcos internacionais. Os países com mais mulheres na política estão adotando políticas climáticas mais eficazes. Estatisticamente, as mulheres tendem a valorizar mais a biodiversidade, usando terras e florestas para alimentos e medicamentos. 
Um estudo em Serra Leoa mostrou que as mulheres podem identificar 31 usos para uma determinada árvore, enquanto os homens podem identificar apenas oito. Os homens, normalmente, verão os recursos naturais em termos de benefícios comerciais imediatos. As mulheres verão comida, combustível, medicamentos e água potável para as próximas gerações.

Chamada para ação: o que podemos fazer?

  • Educar mulheres jovens – Estudos mostram que este é um fator chave que leva à redução no tamanho da população.
  • Aumentar o número de mulheres que tomam decisões – Levando a mais proteção da terra e menos emissões de carbono.
  • Identificar as jovens profetas do clima de nossa época e ampliar suas vozes.
Qual mudança você pode fazer? O que a sua igreja pode fazer?
É absolutamente vital apoiarmos nossas irmãs em risco em todo o mundo.
*Reverenda Dra. Rachel Mash é coordenadora de meio ambiente para a Igreja Anglicana da África Austral. Atualmente, trabalha com o Green Anglicans youth Movement e, também, é secretária da Anglican Communion Environmental Network.