“DF é mais perigoso para mulheres negras”, diz pesquisadora

Segundo pesquisadoras, o racismo opera nos níveis interpessoais, estruturais e institucionais.

 

Do total de mulheres assassinadas no Distrito Federal entre 1996 e 2016 (17.310), 74% eram negras, de ados acordo com o Mapa da Violência de Gênero. Para a pesquisadora em política social, Marjorie Nogueira, que é historiadora, a capital do país se transformou em um dos locais mais perigosos para mulheres negras. “É necessário que o DF tenha políticas específicas para combater esse tipo de feminicídio”, afirma. Os números, segundo pesquisadoras, são é apenas a ponta do iceberg de uma realidade brasileira: a violência contra a mulher no país também tem cor. Segundo a socióloga Bruna Pereira, as taxas de agressão contra a mulher negra são maiores em virtude da incidência do racismo que opera nos níveis interpessoais, estruturais e institucionais.

A socióloga explica que, para além da violência em si, outro fator é determinante na vida dessas mulheres. Devido ao racismo estrutural, a população negra se concentra em regiões mais pobres. Dessa forma, as mulheres têm mais dificuldades para acessar serviços de proteção adequados e possuem menor condição financeira para encontrar soluções para sair do cenário de violência doméstica. Além das deficiências do transporte público, os serviços estão concentrados em regiões que estão distantes de onde elas moram.

No caso do Distrito Federal, há apenas uma delegacia especializada em crimes contra a vida da mulher localizada na quadra 204/205, na Asa Sul, em Brasília. Isso significa que uma moradora de Ceilândia, por exemplo, tem que percorrer em torno de 30 km para denunciar o crime.

Nos serviços de atenção às vítimas de violência, incide ainda o racismo institucional, que não é necessariamente consciente, mas causa discriminação durante o atendimento. Por exemplo, se propaga a partir da ideia de que a mulher negra é mais forte e consegue se defender sozinha ou a associam ao mundo do crime, ou seja, como se ela fosse também culpada, uma espécie de “pediu para sofrer agressão”, aponta Bruna Pereira.

 

 

 

Por: Ana Clara Avendaño via Jornal de Brasília/Agência UniCEUB