Mensagem Pastoral da Câmara Episcopal

Estamos enfrentando a pior onda de incêndios no Brasil em sete anos. Há mais de duas semanas nossa Amazônia arde em chamas, inflamada pela ganância e pelo ódio. Em 2019 a Amazônia concentra 52,5% dos focos de queimadas do Brasil, chama a atenção que essas queimadas tenham aumentado logo após o presidente da república criticar o INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e demitir seu coordenador porque o instituto alertou para o aumento superior a 80% no número de incêndios florestais no Brasil, entre janeiro e agosto deste ano, em comparação com o mesmo período do ano passado.

Os incêndios na Amazônia não são fruto do período de estiagem na região, não são resultado da ação da própria natureza, tratam-se de ações orquestradas por pessoas representantes do agronegócio, por grileiros e garimpeiros incentivados pelo discurso irresponsável do presidente da república e suas afirmações inconsequentes de que o Ibama é uma indústria de multas, que em seu governo não mais serão demarcadas áreas de proteção ambiental ou reservas indígenas, que deseja abrir áreas protegidas para a exploração, mineração e garimpo, que discurso ambiental é “coisa de vegano” e que atrasa o país. As queimadas na Amazônia são também resultado de uma política de governo que busca o sucateamento e desmonte das Políticas Socioambientais e das instâncias de proteção ambiental com um corte de 187 milhões de reais para o ministério do Meio Ambiente e de 89 milhões para o Ibama;

Como resultado desta conjuntura assistimos estarrecidos as labaredas consumirem parte da floresta que contém a maior diversidade biológica e cultural do planeta, as chamas atingiram a tríplice fronteira entre Brasil, Bolívia e Paraguai, consumindo milhares de hectares de vegetação, carbonizando nossa fauna e flora, somando-se a isso a violação de direitos e morte das populações indígenas, e o sofrimento das comunidades ribeirinhas e quilombolas. O silêncio da presidência da república, as ironias sobre a situação da Amazônia, a intenção de minimizar as consequências das queimadas criminosas e a tentativa de responsabilizar as ONGs de proteção ambiental configuram uma estratégia sistemática de um governo de morte resultando em uma enorme catástrofe e na devastação sem precedentes de parte do bioma Amazônia.

Como pessoas cristãs anglicanas não podemos nos calar e queremos reafirmar as Marcas Anglicanas da Missão proferidas no momento de nossa Aliança Batismal e com elas reassumir o compromisso de lutar para salvaguardar a integridade da criação e de transformar as estruturas injustas da sociedade, desafiando toda sorte de violência, respeitando a dignidade de toda pessoa humana e buscando a paz e a reconciliação.E como Câmara Episcopal da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil repudiamos as ações do atual governo, e conclamamos nosso povo a orar pela Amazônia, a testemunhar por palavras e obras a fé que professam, a denunciar todas as atitudes de desrespeito socioambiental e a viver o compromisso com a Cultura da Vida no resgate da dignidade, da justiça, da paz e da preservação socioambiental como sinais e frutos da vivência do amor segundo o mandamento de Cristo.

“Sopro de vida, que gestaste em teu ventre toda a ordem criada, ensina-nos a respeitar todas as criaturas, em testemunho vivo do Evangelho, que nos instiga a lutar pela preservação da natureza, restaurando o ideal do Éden e a perfeição daquilo que nos deste como presente. Em nome de Jesus Cristo, entregamos nossas orações. Amém”  (Coleta Pela Responsabilidade Ambiental – Livro de Oração Comum, pág. 520)Câmara Episcopal

Bispo Naudal Alves Gomes, Diocese Anglicana do Paraná e Primaz
Bispo Maurício Andrade, Diocese Anglicana de Brasília
Bispo Renato Raazt, Diocese Anglicana de Pelotas
Bispo Francisco de Assis da Silva , Diocese Sul- Ocidental
Bispo Humberto Maiztegui , Diocese Meridional
Bispo João Câncio Peixoto, Diocese Anglicana de Recife
Bispo Eduardo Coelho Grillo, Diocese Anglicana do Rio de Janeiro
Bispa Marinez Rosa dos Santos Bassotto, Diocese Anglicana da Amazônia
Bispo Clóvis Erly Rodrigues, Emérito
Bispo Almir dos Santos, Emérito
Bispo Celso Franco, Emérito
Bispo Jubal Pereira Neves, Emérito
Bispo Orlando Oliveira, Emérito
Bispo Filadelfo de Oliveira, Emérito
Bispo Saulo de Barros, Emérito